Blog de Jornalismo Especializado, Universidade Lusófona Porto

16
Mai 11

State of Play é um filme de Kevin Macdonald, que relata a história da investigação sobre o assassinato sequencial de diversas personagens. Entre elas, destaca-se Sónia Baker, principal investigadora da equipa de Stephen Collins, um promissor político e possível candidato à campanha presidencial americana. Estes homicídios começam a ser investigados por Cal McAffrey, jornalista do Washington Globe e antigo colega de Collins do tempo da universidade, e Della Frye, jornalista no mesmo jornal. Ao tentar desvendar a identidade do assassino, os jornalistas acabam por se envolver nos meandros da política e descobrir os pormenores de uma história muito complexa e perigosa.

 

 

 

Persistência da investigação no jornalismo


Cal McAffrey resolve investigar aprofundadamente os pormenores do homicídio de um rapaz com o intuito de escrever um artigo para o jornal onde trabalha, mas no decurso dessa investigação acaba por se deparar com imensos entraves e só ao fim de um longo período de tempo e de muito trabalho é que consegue alcançar a verdade da história. A determinada altura, descobre uma possível ligação entre esse homicídio e a morte de Sónia, uma personalidade ligada à política com bastante relevo social. Aparentemente, as duas histórias nada têm em comum, no entanto, devido à persistência, curiosidade e insistência do jornalista, na procura da verdade e verificação dos factos, este acaba por descobrir um ponto de cruzamento entre os dois casos. Um simples artigo transforma-se num grande caso de jornalismo de investigação. 

 

Complexidade da história


Cal é um jornalista conceituado que trabalha há 15 anos no jornal Washington Globe e que investiga as causas da morte de Deshaun Stagg, um toxicodependente e ladrão de documentos importantes que aparece baleado na rua, e a tentativa de assassinato de Vernon Santo, um entregador de pizzas, que é encontrado ainda com vida perto de Deshaun. No mesmo jornal trabalha também Della Frye, uma jornalista que escreve numa coluna de um blogue sobre relações pessoais na esfera política. Segundo indicações de Cal, Della inicia uma investigação sobre a morte inesperada de Sónia Baker, principal investigadora da Comissão do congressista Stephen Collins, antigo colega de quarto do tempo da universidade de Cal. Ao longo das investigações jornalísticas, os acontecimentos vão-se precipitando e levam Cal e Della a descobrir que as suas histórias se cruzam em alguns pontos. Isto conduz à descoberta da existência de uma relação entre os homicídios e de factos extremamente polémicos na história. Descobrem que Collins e Baker mantinham um relacionamento amoroso, que existe corrupção por parte de alguns membros do Congresso e da Point Corp, uma empresa de Segurança Privada fundada e formada por ex-militares, e que foi Robert Bringham que matou Deshaun e Sónia, e que tentou matar Vernon. Bringham era um ex-militar que devia a sua vida a Collins, por este o ter salvo durante a guerra no Kwait, e que a mando deste último iniciou uma perseguição a Sónia para descobrir qual a sua ligação à Point Corp e as suas reais intenções em relação a Collins.

 

Ao longo deste processo moroso, Cal depara-se com imensas dificuldades que contribuem para retardar o alcance da verdade. São problemas diversos que o jornalista vai ultrapassando e que dizem respeito ao contacto e às relações estabelecidas com determinadas fontes de informação, às intenções menos dignas de fontes que procuram tirar partido da posição profissional de Cal e à relação que este mantém com a Polícia, quando a história passa a caso policial, e com as chefias do jornal, quando apertam os timings para a entrega dos artigos. Algumas dificuldades estão também associadas à segurança dos jornalistas e das próprias fontes, cuja vida é colocada em perigo em vários momentos da história. Por toda a sua envolvente, esta história acaba por constituir um óptimo exemplo de como se deve tratar um acontecimento em jornalismo de investigação.

 

Dualidade entre jornalismo tradicional de Cal e jornalismo online de Della

 

No filme é patente a dualidade existente entre o jornalismo, por assim dizer, tradicional e o jornalismo online, praticado nos blogues. Esta dualidade é visível no início do filme, através do confronto entre Cal e Della, dois jornalistas do mesmo jornal com mentalidades, processos de trabalho e posturas em relação ao conceito de jornalismo, muito diferentes.

 

Cal é um jornalista antigo do Washington Globe, um jornalista de tarimba habituado a um processo de trabalho mais tradicional. Defende o artefacto, o jornal impresso ao qual está associada uma maior credibilidade dos factos relatados, ao contrário do jornalismo dos blogues que está mais ligado à opinião e à falta de confirmação da verdade devido à urgência e à velocidade, inerentes à própria Web. Pois, as informações publicadas online têm de garantir um imediatismo que leva a que os conteúdos publicados tenham um tempo de vida muito mais efémero. Della é, ao contrário de Cal, uma jornalista habituada a escrever na Web. É mais nova, inexperiente e escreve uma coluna no blogue Capitólio.

 

A história entre ambos acaba por confirmar que os dois estilos jornalísticos não são incompatíveis e que ambos conseguem empreender juntos uma grande investigação e um importante trabalho para ser publicado no jornal onde trabalham. Della vem, mais tarde, ainda confirmar que tratando-se de “uma peça assim tão grande, provavelmente as pessoas devem ter o jornal nas mãos, quando a lerem”. O que confirma também que de facto o formato impresso inspira maior confiança em relação à credibilidade informativa que o formato online.

 

Lucros Versus procura da verdade


 

Outra dualidade patente no filme é a questão financeira e a necessidade de tempo para alcançar a verdade. A questão dos lucros que o jornal tem de obter com as suas publicações e o tempo que os jornalistas necessitam para realizar as suas investigações e reportagens. Esta é uma discussão de interesses que surge em diversos momentos do filme entre Cal e Cameron, a editora do jornal que está fundamentalmente interessada em lucros e notícias que façam vender muitos jornais. Esta dualidade, coloca Cameron numa posição de pressão sobre Cal. Procura que ele lhe transmita informações polémicas que possam ser publicadas sobre Stephen Collins, que acabe as peças que tem em mãos para serem publicadas e questiona-o em relação ao motivo que leva o Washington Globe a não publicar certas notícias, sobre o caso que estão a investigar e que têm acesso em primeira mão, antes dos outros jornais o fazerem. Cal defende a verdade e coloca-se contra os princípios e os interesses de pessoas pouco fidedignas. Rejeita a publicação de assuntos irrelevantes que muitas vezes são acompanhados de mentiras e embustes. 

 

Cal e Cameron têm, apesar de tudo, uma boa relação profissional, ao ponto de certas vezes ela o proteger em determinadas situações. Mas acontece que o Washington Globe encontra-se em fase de reestruturação e que os novos donos acham que o jornal deve passar a ter lucros. Ao novo manager o que interessa são as vendas e não a discrição, como chega Cameron a comentar com Cal sobre a possibilidade de falência do jornal. Tudo isto, coloca Cameron numa situação de pressão e de urgência para apresentar resultados positivos a nível das vendas.

 

A certa altura, Cameron comenta com Cal que gosta de Della porque ela “é ambiciosa, é barata e produz artigos a toda a hora”. Já, Cal diz-se “subcarregado”, muito caro e muito demorado, um jornalista que releva a investigação e a exactidão dos factos, não um produtor de hard news. Mas para fazer investigação é preciso tempo para confrontar dados e fontes, é preciso investimento e os jornais, tal como se verifica no Washington Globe, não se podem dar ao luxo de dispensar jornalistas para efectuar trabalhos muito demorados.

 

Hard news e investigação jornalística

 

O bombardeamento mediático das televisões e da internet, com transmissões em directo e especulações sobre o possível relacionamento amoroso entre Stephen e Sónia, ocorreu em simultâneo com o exame minucioso e exaustivo dos factos, levado a cabo por Cal e Della. Ao passo que os outros mass media difundiam notícias de teor polémico e geravam escândalos sobre Sónia, Collins e Anne (sua esposa), os jornalistas do Washington Globe empenhavam-se na confrontação dos factos que iam descobrindo e arriscavam a própria vida na procura da verdade, sem recorrer ao facilitismo e à especulação. Estabeleciam contactos telefónicos e presenciais com fontes novas, visitavam diversos locais e relacionavam os dados obtidos até chegar a conclusões passíveis de serem confirmadas.

 

As reclamações da editora do jornal com Cal eram constantes, no entanto, este não se deixava vender nem iludir com histórias infundadas contadas por pessoas que não inspiravam confiança e que queriam simplesmente atenção mediática. Cameron ficou furiosa com Cal quando descobriu que ele tinha decidido não fazer notícia da história que Rhonda Silver, uma amiga de Sónia Baker, contou acerca do escândalo sexual no seio do Congresso relacionado com Stephen Collins. Notícia esta, que tinha sido fornecida a Della Frye em primeira mão e que acabou por fazer capa noutro jornal.

 

Verdade Versus Mentira & Amizade Versus Profissionalismo


 

A questão da verdade dos factos relatados não se coloca apenas a nível das fontes de informação secundárias do acontecimento. O próprio Stephen Collins, que se dizia amigo de Cal, acabou por tentar usar o jornalista para ver publicada a sua versão dos factos e livrar-se da responsabilidade associada às mortes que se foram sucedendo. Collins encobriu muito habilmente, enquanto pode, o que sabia sobre a morte de Sónia. Não contou a Cal que desconfiava de Sónia e que a tinha colocado sob a vigilância de Robert Bringham, um ex-militar psicologicamente desequilibrado que acabou por a assassinar, segundo Collins, por sua livre vontade sem que este lho tivesse pedido.

 

Cal tentou ajudar Collins desde o momento em que este se deslocou à casa do outro para lhe falar do que tinha acontecido a Sónia, para lhe mostrar a mensagem dela no seu telemóvel e para lhe dizer que ela não se tinha suicidado, deixando em aberto a causa da morte dela. O jornalista tentou ajudar Collins a construir uma notícia alternativa plausível para virar a história que estava a ser montada pelos media e pediu a Della para investigar sobre o assunto junto da polícia. A partir desse momento Cal não largou mais a história, especialmente, pelo facto de esta acabar por se cruzar com a investigação que ele empreendia nessa altura. Cal tentou sempre ao longo da investigação, defender a posição de Collins, mesmo no jornal, e adverte-lo para os acontecimentos menos bons que perspectivava para a sua pessoa. No entanto, Collins desiludiu Cal quando este percebeu que o tinha tentado proteger e ajudar e que o outro lhe tinha mentido. Essa atitude pouco digna de Collins mereceu a desconsideração pela amizade e confiança que Cal lhe depositara. Cal deixou de agir como um amigo e passou a agir como um profissional que pretende desvendar a verdade e ver os factos esclarecidos e divulgados.

 

Do artigo ao caso


 

A certa altura, dada a complexidade da história, a quantidade de pormenores que a envolviam e a natureza do ambiente a que pertencia (política), o simples artigo de jornal transformou-se num caso policial. Devido à ocorrência de diversas mortes inexplicáveis e à tomada de conhecimento por parte da polícia, que o Washington Globe possuía provas físicas que podiam contribuir para desvendar a identidade do autor dos crimes, a polícia teve de assumir uma posição mais rígida em relação ao jornal. Pois, Cal assumiu a certa altura quase o papel de detective do caso, colocando-se a si mesmo, a Della, e a algumas fontes de informação, em perigo de vida. Dominic Foy, constitui um exemplo de uma fonte do caso que sofreu agressões físicas devido ao seu envolvimento no processo de investigação jornalística. Foy sofreu agressões por parte de Collins quando este descobriu que o outro tinha revelado certas informações sobre Sónia aos jornalistas.

 

Don, o detective da polícia tinha um acordo com Cal quanto à divulgação dos acontecimentos relacionados com a história, no entanto, quando descobriu que o jornal tinha na sua posse fotografias de Sónia Baker, com imagens fulcrais para serem analisadas e que podiam contribuir para o desenrolar do caso, teve que se dirigir ao jornal para tomar as rédeas da situação e colocar ordem na investigação que estava a ser feita pelo jornal. A investigação jornalística tinha quase passado a investigação policial e o jornalista a detective. Mas também é de ter em conta que, para além do processo de investigação, o que faz com que o jornalismo de investigação seja credível é o confronto entre as autoridades (polícia) e os jornalistas, entre o respeito pela lei e o infringir essa mesma lei.

 

Fontes de informação da história

 

No decorrer do processo de investigação desta história, Cal e Della contactaram diversos tipos de fontes de informação. Umas mais outras menos directamente relacionadas com as mortes ocorridas e com as pessoas assassinadas. Algumas fontes tomaram a iniciativa de contactar Cal, como o caso de Mandi Brokaw, a namorada toxicodependente de Deshaun Stagg, o rapaz morto que tinha roubado a mala de Robert Bringham onde se encontravam as fotografias de Sónia. Quando Mandi descobriu as fotografias na mala roubada, tirou-as e mais tarde entregou-as a Cal. Já Dominic Foy, foi abordado por Cal numa cafetaria e ameaçado que se não lhe fornecesse um depoimento sobre o que sabia acerca de Sónia e sobre a Point Corp, seria publicada uma história no jornal que colocaria em risco a sua reputação e até a sua vida em relação à Point Corp. O deputado George Fergus, foi também abordado por Cal, de um modo mais formal, numa tentativa de confrontação da verdade, que no final se mostrou bastante reveladora. Mas para além destas, Cal teve acesso a uma fonte de informação extremamente importante que se constituiu numa fonte confidencial, um membro da Point Corp que lhe transmitiu informações muito relevantes sobre essa empresa de segurança e que o ajudou a desvendar a identidade do assassino através de uma fotografia. Anne, esposa de Collins, foi uma personagem que se transformou a determinada altura em mera fonte. Cal e Anne haviam tido no passado um relacionamento amoroso durante o casamento dela com Collins, mas Cal conseguiu ultrapassar esse sentimento por ela e o relacionamento entre eles também se alterou, passando de amiga/amada a fonte de informação. Assim como, Collins também desempenhou para Cal, os papéis de: amigo, fonte de informação e mero conhecido.

 

Cada uma das fontes contactada ou que contactou os jornalistas tinha intenções muito precisas e muito diferentes entre si. Umas pretendiam ver as suas pessoas mediatizadas pelos mass media, outras queriam ver as suas versões da história publicadas e difundidas, outras não tinham sequer intenções nenhumas de conhecer e falar com Cal e Della, e havia ainda as que forneciam informações em troca de encontros posteriores, como aconteceu a certa altura com Della.

 

Por: Lícia

 

publicado por líciacunha às 22:20

Estratégia do Calote, sugerida por Francisco Louçã, é a proposta milagrosa dos bloquistas para resolver o problema da dívida externa portuguesa, Com ela far-se-ia baixar ao zero absoluto os juros e os empréstimos a pagar pelo país aos credores. Num instantinho. Que tal? Não me digam que vos parece mal? Num abrir e fechar de olhos ficávamos todos numa boa!



A possibilidade de os portugueses serem equiparados a parasitas, ficando pateticamente sós, porque a comunidade internacional imporia distância, sem honra nem respeito de ninguém, não incomoda estes pândegos do país do faz-de-conta. Parecem querer dizer “quem fia que não seja parvo, porque o mundo é dos espertos”. A ideia já não é “os ricos que paguem a crise”; é “não pagamos e não temos medo de ninguém”.



Como é possível que um líder partidário, ainda por cima professor de Economia, tenha a lata de defender uma coisa destas? A gente cora de vergonha, só de pensar nisso, e não percebe a moral da história. Mais implacável que Lawrence da Arábia, Louçã parece querer imitar aqui, mas agora em grande, a história que ainda se conta no Café Central de Moscovo, do seu ídolo político, o infeliz Leon Trotsky, que um dia, depois de se banquetear, saiu à francesa, sem pagar a conta. E mesmo depois de passar pela vergonha de ser perseguido na rua pelo criado, fez um manguito e foi a vida.

Sócrates2011 a 16 de Maio de 2011 às 23:26

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