Blog de Jornalismo Especializado, Universidade Lusófona Porto

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Mai 12

Por: Patrícia Alves

 

 O jornalismo de investigação em Portugal, vem se destacando nos últimos anos, onde atuam jornalistas combativos, que buscam a construção de uma sociedade mais justa.

 

O jornalismo investigativo distingue-se dos demais géneros jornalísticos por divulgar informações sobre condutas que afetam o interesse público. As denúncias resultam desse trabalho. O objetivo final da investigação jornalística é informar o público das irregularidades públicas ou privadas, politicas, económicas e sociais. Em Portugal os jornais que mais se destacaram neste nincho foi o extinto “Semanário o Independente”, o “Semanário Expresso” e o “Semanário o Sol”.

 

A regulação da comunicação social em Portugal está prevista no artigo 39º da Constituição da República Portuguesa. A Lei nº1/99 de 13 de Janeiro é a Lei fundamental para o exercício da profissão de jornalista em Portugal. A Lei de imprensa é regulamentada pela Lei nº2/99 de 13 de Janeiro.

 

Jornalistas há mais de 20 anos em Portugal na especialidade de investigação, Felícia Cabrita e Miguel Carvalho, nestas entrevistas falam dos casos que já investigaram, da sua responsabilidade social, das suas fontes jornalísticas e dos processos judiciais que existiram contra eles, envolvidos por parte do poder político em Portugal.

 

Eles fazem uma reflexão de como está o jornalismo de investigação em Portugal, diante de uma luta constante contra o poder político, judiciário e também uma grande preocupação com a formação dos jornalistas que terminaram o curso nestes últimos anos.

 As entrevistas foram decorridas no Porto, nos meses de Março e Abril de 2012.

 

Jornalista Felícia Cabrita

 

 

Felícia Cabrita é Escritora e Jornalista do Semanário SOL, tendo trabalhado em vários órgãos de comunicação social, como o jornal Expresso, a revista Grande Reportagem e a estação de televisão SIC. A jornalista Felícia Cabrita é autora da obra “Amores de Salazar” e “Massacres em África”.

Tornou-se muito conhecida, por ter sido a primeira pessoa a denunciar, através do jornalismo de investigação, grandes escândalos nacionais, como o Ballet Rose, o caso Casa Pia, caso Freeport, caso Face Oculta e o caso Duarte Lima no Brasil.

 

 

Jornalista Miguel Carvalho

 

Miguel Carvalho é Escritor, Redator e grande Repórter da Revista Visão. Tendo trabalhado no jornal Diário de Notícias e no Semanário “O Independente”. Já investigou casos de peso a exemplo da Universidade Portucalense e Lúcio Tomé Feteira. Em 2009 ganhou o prémio Gazeta do Clube dos Jornalistas, com a investigação e reportagem sobre Joaquim Ferreira Torres: “ O Segredo do Barro Branco”. 

 

“A liberdade de expressão e o poder judiciário”

É um conceito basilar nas democracias modernas na qual a censura não tem poder nenhum. Está previsto também no artigo10º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

 

O primeiro ponto da nossa entrevista, digamos que é propriamente o pano de fundo da comunicação social, foi saber de que maneira eles veem o jornalismo de investigação em Portugal e se existe realmente uma manipulação por parte do poder politico ou liberdade de expressão.

 

Felícia afirma com a seguinte frase:Está mal. Muito Mal! O mundo é mau e eu trabalho com o lado obscuro da sociedade”. O poder económico, os patrões da comunicação social estão cada vez mais aliados ao poder político, precisamente por não terem dinheiro e agora com a crise, pior. E até que ponto se vai conseguir esta independência fundamental de uma democracia que é a comunicação?”. Questiona.

 

Segundo Felícia, o antigo governo, nomeadamente o ex-primeiro ministro, José Sócrates, tentou colocar travões numa série de órgãos da comunicação social em Portugal que lhe traziam aborrecimento. A comunicação estava muito moribunda.

 

Felícia acredita que houve um rompimento no tecido da comunicação social, principalmente por parte dos alunos que entraram e saíram das universidades durante este período, neste último regime.

 

As afirmações se dividem quanto a quem começou a instituir o controlo da comunicação social em Portugal. Para Miguel Carvalho, tudo isto começou com o governo do Santana Lopes, ex- primeiro ministro que antecedeu José Sócrates.

 

Uma das suas principais preocupações quando o Santana Lopes montou o seu gabinete, foi escolher pessoas que de alguma maneira pudessem filtrar o mais que pudessem com tudo o que tivesse a ver com a comunicação e criar uma espécie de gabinete de manipulação”. Afirmou Miguel.

 

A Liberdade de expressão está intrinsecamente ligada ao poder judiciário e isto é muito preocupante. Em Portugal, enquanto os diretores da polícia, enquanto o Procurador-Geral da República forem escolhidos pelo poder político, obviamente, que temos também um sistema judicial viciante. É aquilo que tem acontecido quer em relação ao “Freeport”, quer em relação à “Cova da Beira”, quer em relação ao “Face Oculta”. Explica Felícia.

 

“Responsabilidade social e as fontes”

Na hierarquia do poder de uma sociedade, a comunicação social é o 4º poder. A função da midia é vigiar o Estado para que ele não desvie de seus propósitos originais, principalmente viabilizando o intercâmbio de informações.

 

Em 1942 é formulada a comissão pela Liberdade de Imprensa, nos Estados Unidos, a Teoria da Responsabilidade social da Imprensa (TRSI). A plataforma propôs uma agenda para a imprensa visando um sistema de jornalismo ético, à medida que estabelecia como principio central que os jornalistas estariam obrigados a serem responsáveis com o seu público.

 

A ideia permanece atual. Em 2003, os jornalistas americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, através de um estudo sistemático e abrangente sobre o processo de recolher e apurar informação e as suas responsabilidades, reafirmaram que o princípio mais importante do jornalismo, é o compromisso com a verdade, pois o público necessita de informação ética, democrática e verdadeira para a sua própria independência.

 

No que diz respeito à “Responsabilidade social e às fontes” quando encontram um dado que pode ser denunciado, Felícia explica que “é preciso um grande trabalho, as pessoas agem por motivações, é preciso checar muito bem essa fonte e analisar processos jurídicos. Nunca se deve deitar nada para o lixo. O jornalista tem uma grande obrigação social e pública que é de fato a denúncia, mas faze-lo com liberdade, sempre na expectativa da verdade.

 

Miguel afirma: Eu não entendo essa profissão de outra maneira, sem responsabilidade social. O jornalismo no dia em que deixar de ter responsabilidade social, não é jornalismo”. Quanto às fontes: “ tomo nota de telefone até em guardanapo. Eu aprendi desde muito cedo nesta profissão, que não se trai uma fonte em qualquer circunstância, e sou muito fiel a isso.

 

Os jornalistas, Felícia e Miguel, sentem-se orgulhosos por serem jornalistas. O que, segundo Felícia, sente falta, é de diretores independentes, diretores com passado, com percurso, com independência. Corajosos. E as escolhas hoje são muito políticas e, é fácil analisar, olhando para as direções dos jornais e das televisões.

Miguel Carvalho, considera-se feliz, porque nunca quis fazer outra coisa que não fosse o jornalismo. Ele afirma que, se for preciso, trabalha até de graça.

 

LEIA A ENTREVISTA NA INTEGRA

 

 

publicado por patriciaalves às 20:26

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