Na última aula de jornalismo especializado, a turma recebeu uma convidada do país vizinho: Elvira Calvo. A jornalista e docente da Universidad Complutense de Madrid, guiou-nos numa incursão por aquela que foi a transformação da informação económica em Espanha, quer como conteúdo quer como área de especialização jornalística.
Desde a década de 50 – época em que surgiram as primeiras crónicas económicas - aos nossos dias, a informação económica conheceu uma evolução plena de aspectos interessantes. Nos anos 60, esta é já reconhecida, academicamente, mas o verdadeiro ‘boom’ deu-se trinta anos mais tarde.
Os suplementos especiais, que ainda hoje acompanham as edições de vários diários generalistas, tornaram-se um fenómeno. Apesar de, inicialmente, se destinarem a empresários e investidores, a curiosidade da sociedade em geral por aquelas páginas em cor salmão cresceu, pois o interesse pelo panorama económico passou a ter um peso incontornável na vida de todos. De certa forma, foi o despertar para uma realidade que permanecia longe do horizonte de muitos. Durante a ditadura de Fraco, que persistiu no país até 1975, a informação sobre economia a que a população tinha acesso era muito limitada. No entanto, mais tarde, a classe média passou a cultivar um grande interesse pela área, aprendendo a interpretar os valores na bolsa. Conforme a informação ia ganhando terreno na imprensa, conseguiu impor o seu lugar nos meios de comunicação.
Em 1986, com a entrada de Espanha para a União Europeia, a população procura, cada vez mais, aproximar-se e inteirar-se do cenário económico. Na mesma década, a imprensa económica deixa de estar confinada aos suplementos especiais, e passa a ter publicações independentes, maioritariamente exclusivas a assuntos económico-financeiros. O primeiro diário económico – ‘Expansion’ – é, actualmente, o mais lido no país. Seguem-se-lhe os diários ‘5 dias’ e ‘La gaceta de los negócios’. Este último, há cerca de 5 anos, converteu-se num jornal generalista (passou a chamar-se ‘La Gaceta’), verificando-se uma certa tendência em associar-se à extrema-direita. Mais recentemente, surge o primeiro diário económico gratuito, o ‘Negócios’, cuja tiragem atinge os 100mil exemplares, prova do seu sucesso entre o público espanhol. Há ainda o ‘El Economista’, um diário novo recuperado de um projecto antigo.
Também na rádio, surge uma emissora, em 1994, dedicada somente a assuntos económicos: ‘Rádio Intereconomia’. O que primeiramente foi visto sem futuro, pois não se acreditava que tal tema alimentaria as audiências durante 24 horas. Na verdade, os ouvintes rapidamente cresceram, queriam ter conhecimento das notícias transmitidas e participavam nas emissões para esclarecerem as suas dúvidas. Perante tal manifestação de interesse, surge o canal ‘Economia Television’, também ele destinado à transmissão de conteúdos económicos. A economia consagrava assim o seu lugar na televisão. Contudo, a programação veio a revelar-se muito pouco democrática, transmitindo, preferencialmente, informação de direita. Em 2010, o canal passa a ser generalista. Cria-se outro canal, o ‘Intereconomia Business’.
Nesta mesma década, a Bloomberg instala-se na Península Ibérica, no ano de 1997. A ideia original de Michael Bloomberg (remete-nos à década de 70) de criar uma agência que transmitisse em tempo real as informações da bolsa, revelou-se um grande êxito como negócio. Fez com que os empresários se interessassem, o que originou a Bloomberg News, a Bloomberg Rádio e a Bloomberg TV. Porém, em 2007, a crise ditou o encerramento de várias dependências por todo o Mundo, restando apenas o canal inglês.
Ainda assim, o interesse pelos mercados financeiros não decaiu. A crise é um dos factores que sustenta esta procura. No jornalismo digital, somam-se vários portais, blogs e outras páginas na Web cujo objecto é o estado da economia.
No fim da sessão, outra questão relacionada foi discutida: até que ponto é que os jornalistas têm aptidões para trabalharem neste domínio? Elvira partilhou um pouco da sua experiência profissional, defendendo a importância dos profissionais da comunicação procurarem formação económica, sendo esta uma mais-valia. No seu caso o que a levou a investir nesta foi a sua ‘ignorância absoluta’ quanto ao tema. “Trabalhei muitos anos em informação cultural, que é muito bonita e muito fácil. Mas quando estava a fazer o doutoramento, descobri a economia, e que era muito bonita também. Foi fácil encontrar trabalho nesta área”.
Por: Ana Azevedo